Ao comparar três protocolos de tratamento para pacientes com câncer de orofaringe, um estudo multicêntrico, realizado nos Estados Unidos, mostra que a cirurgia robótica isolada – sem tratamento sistêmico associado – resulta em menor risco de o paciente desenvolver quadros de xerostomia (boca seca e perda de saliva) e de disfagia (dificuldade para engolir). As observações são do estudo Evaluating dysphagia and xerostomia outcomes following transoral robotic surgery for patients with oropharyngeal cancer, publicado na revista científica Head & Neck, um periódico de ciências e especialidades de Cabeça e Pescoço.
O estudo reuniu 62 pacientes com diagnóstico de câncer de orofaringe que foram submetidos a cirurgia orofaríngea primária como tratamento definitivo. Eles foram distribuídos nos braços de cirurgia isolada (TORS-A / 10 participantes), cirurgia robótica e radioterapia adjuvante (TORS+RT / 30) e cirurgia robótica associada com quimioterapia e radioterapia (TORS+CT-RT / 22). Nesta comparação, foi aplicado o escore do Inventário de Xerostomia (XI) e de Disfagia (MDADI), do MD Anderson Cancer Center.
Os dados mostram que a cirurgia robótica isolada teve pontuação MDADI tanto clínica quanto estatisticamente com um valor significativamente melhor do que TORS + RT e TORS + CT / RT. O resultado também foi observado em relação ao Inventário de Xerostomia. “Os pacientes que recebem a indicação de cirurgia isolada, sem necessidade de radioterapia ou quimiorradioterapia, estão menos sujeitos aos sintomas de xerostomia e disfagia, o que resulta em melhor qualidade de vida, pois a boca seca, perda da produção de saliva e dificuldade para engolir impactam na capacidade do paciente falar e se alimentar adequadamente, no entanto, quando o risco de recorrência é maior, não se pode deixar de indicar o tratamento complementar”, analisa o Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço.
Saiba mais sobre câncer de orofaringe
O câncer de orofaringe surge na região do meio da faringe, atrás da boca, no local onde ficam as amígdalas. É o tipo de tumor mais comum entre os cânceres de faringe, que também podem atingir a nasofaringe (parte superior, localizada atrás do nariz) e a hipofaringe (lado inferior). Este órgão, localizado na garganta, é o ponto de encontro do sistema respiratório e do digestivo, pois faz a ligação do nariz e da boca com a laringe e o esôfago.
O principal fator de risco desta doença, que é mais comum a partir dos 60 anos, é o tabagismo. Por sua vez, por influência da infecção pelo vírus HPV, é crescente a incidência entre os mais jovens. Como estratégia de prevenção, além de não fumar, é fundamental imunizar os meninos e meninas com a vacina contra HPV, disponível no SUS, para a faixa etária de 9 a 14 anos (meninas) e de 11 a 14 anos (meninos). Mulheres imunossuprimidas de 9 a 45 anos (que tem o sistema imunológico fragilizado por causa de alguma condição) e homens imunossuprimidos de 9 a 26 anos, também podem se vacinar gratuitamente.
Mesmo após a vacinação contra o HPV é importante utilizar preservativos em todas as relações sexuais, inclusive a oral. Essa medida pode ajudar na prevenção de outros tipos desse vírus e das demais doenças sexualmente transmissíveis.
Referência do estudo
Mehta MP, Prince R, Butt Z, Maxwell BE, Carnes BN, Patel UA, Stepan KO, Mittal BB, Samant S. Evaluating dysphagia and xerostomia outcomes following transoral robotic surgery for patients with oropharyngeal cancer. Head Neck. 2021 Dec;43(12):3955-3965.
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