O tratamento do câncer de cabeça e pescoço pode ser um momento muito impactante para o paciente oncológico. Afinal, na maioria dos casos, é necessário um procedimento cirúrgico para remover o tumor. Antes e após a cirurgia, o paciente pode precisar de acompanhamento de uma equipe multiprofissional para conseguir recuperar algumas funcionalidades importantes e se adaptar a essa nova realidade.
Para contribuir com a melhora da qualidade de vida, existe uma série de especialistas que atuam em conjunto com o cirurgião de cabeça e pescoço, como a nutrição, psicologia, fonoaudiologia e a fisioterapia. Esta última, por sinal, é bastante importante para auxiliar na reabilitação de movimentos, atenuar dores e disfunções e ajudar o paciente a retomar as atividades diárias que costumava fazer.
Para entender melhor a importância da fisioterapia para o paciente de cabeça e pescoço, conversamos com Telma Ribeiro Rodrigues, fisioterapeuta do A.C.Camargo Cancer Center, sobre vários aspectos da atuação do profissional, desde os cuidados pré-operatórios até as técnicas utilizadas de acordo com possíveis dores e complicações que podem surgir depois de uma cirurgia. Confira:
Clínica Kowalski: A partir de que momento a fisioterapia pode atuar junto ao paciente de câncer de cabeça e pescoço? Só depois de uma cirurgia ou já terá algum contato de preparação antes?
Telma Ribeiro Rodrigues: A fisioterapia pode ajudar os pacientes de câncer de cabeça e pescoço antes da cirurgia, ou de tratamentos como quimioterapia e radioterapia. Neste momento que antecede o tratamento, o profissional deve informar o paciente sobre possíveis complicações e sequelas, como será a intervenção da fisioterapia e sobre sua participação ativa neste processo de reabilitação. Esse trabalho prévio é importante também nos casos que apresentem um maior risco de complicações ou se o paciente tiver alguma alteração respiratória ou motora já existente que necessite de uma abordagem prévia à cirurgia.
Clínica Kowalski: Como é a atuação do fisioterapeuta com um paciente de câncer de cabeça e pescoço?
Telma Ribeiro Rodrigues: O fisioterapeuta atua durante todo a linha de cuidado com o paciente de câncer de cabeça e pescoço. Durante a fase de internação, por exemplo, com fisioterapia respiratória para melhorar a capacidade pulmonar, com técnicas de higiene brônquica e mobilização precoce, para que o paciente saia do leito o mais rápido possível, e ganhe mobilidade, por meio de exercícios e caminhada. Posteriormente o fisioterapeuta atua nas alterações funcionais específicas que ocorrem durante o tratamento, já na fase ambulatorial [período de reabilitação fora do hospital].
Clínica Kowalski: Quais os cuidados ou exercícios de reabilitação mais indicados para o paciente com câncer de cabeça e pescoço?
Telma Ribeiro Rodrigues: Isso dependerá do objetivo, os exercícios podem ser direcionados para recuperar um determinado segmento do corpo; para ajudar no movimento; ou para ganho de força muscular global [para movimentos como andar ou correr], pois em alguns casos os pacientes podem emagrecer e apresentar perda de massa magra e, com isso, diminuição de força, o que dificulta as suas atividades diárias e pode comprometer sua independência. Nestes casos, exercícios seriam indicados para condicionamento e fortalecimento global.
Os pacientes que estão em fase inicial de cicatrização, que ainda estão com um dreno [que ajuda a retirar o excesso de líquidos] ou que estão em uma fase de reconstrução com enxertos e retalhos, devem ter cuidado com esforços excessivos e movimentos bruscos com o pescoço.
Na fase ambulatorial durante o tratamento de radioterapia, os pacientes devem ser orientados sobre exercícios para manter a mobilidade, principalmente do pescoço e da mandíbula. Nesse período, a depender das condições da pele, deve-se avaliar a possibilidade de realizar as terapias manuais [conjunto de técnicas utilizadas pelo fisioterapeuta para prevenir e tratar dores e disfunções].
Clínica Kowalski: Quais são as dores mais relatadas por pacientes com câncer de cabeça e pescoço e como é possível minimizá-las?
Telma Ribeiro Rodrigues: Os pacientes submetidos à retirada dos linfonodos no pescoço podem sentir dor no pescoço, devido à rigidez e à dificuldade de movimentação, pois esses pacientes podem, em muitos casos, permanecer por muito tempo na mesma posição ou até dormir dessa forma. No ombro a dor também pode estar presente, quando se realiza atividades com o membro ou mesmo em repouso.
Algumas cirurgias, ou mesmo a radioterapia próxima à região da articulação da mandíbula, por vezes, resultam em dificuldades para abrir a boca, o que causa dor e desconforto, principalmente durante o movimento. Recursos como bandagens, eletroestimulação, relaxamento, massagem e exercícios, entre outros, podem ajudar no controle da dor.
Clínica Kowalski: Quais complicações podem ocorrer com o paciente de câncer de cabeça e pescoço em relação a movimentos, mobilidades ou lesões? Como a fisioterapia pode ajudar na reabilitação do paciente?
Telma Ribeiro Rodrigues: Os pacientes com câncer de cabeça e pescoço podem apresentar diversas alterações como edema (inchaço) de face e pescoço, paralisia facial, dor e alteração dos movimentos do ombro que dificultam a elevação do braço, rigidez e restrição dos movimentos do pescoço e dificuldade para abrir a boca.
A atuação da fisioterapia será de acordo com a complicação que paciente vier a ter em decorrência do tratamento:
No edema de face e pescoço, o objetivo é a redução do volume e dos sintomas. Os recursos terapêuticos mais utilizados são a drenagem linfática manual, uma técnica suave, rítmica e lenta; exercícios para ativação muscular tanto de mímica facial, como de mobilidade cervical; uso de bandagens; e também orientamos sobre os cuidados com a pele para evitar lesões.
No caso de uma disfunção do ombro, opta-se por técnicas manuais; liberação miofascial; analgesia com TENS; exercícios ativos livres [realizados pelo próprio indivíduo] e ativos assistidos [com a ajuda de um fisioterapeuta]; e fortalecimento dos músculos do ombro e escapulares, por meio de exercícios resistidos [com levantamento de peso ou uso de faixas elásticas].
Na presença de paralisia facial, utiliza-se técnicas para estimular a sensibilidade; técnicas manuais específicas para facilitação neuromuscular; fotobiomodulação (laser de baixa potência); e exercícios de mímica facial.
Por fim, no pescoço, para ganhar mobilidade, diminuir a tensão e a dor, temos como recursos técnicas manuais, alongamentos, exercícios de movimentação ativa e fortalecimento, além de orientações quanto ao posicionamento.
Fonte:
Telma Ribeiro Rodrigues, fisioterapeuta do A.C.Camargo Cancer Center