Ao serem submetidos à tireoidectomia, os pacientes com idade mais avançada, que retiram linfonodos comprometidos ou que apresentam histórico de Tireoidite de Hashimoto – também chamada de tireoidite linfocítica crônica, doença autoimune caracterizada como uma inflamação da tireoide – apresentam maior risco de ter hematoma cervical pós-operatório (PNH), uma complicação incomum, mas potencialmente letal, da cirurgia da tireoide. A conclusão é do estudo Risk Factors and Outcomes of Postoperative Neck Hematomas: An Analysis of 5,900 Thyroidectomies Performed at a Cancer Center publicado por pesquisadores do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do A.C.Camargo Cancer Center na revista científica International Archives of Otorhinolaryngology.
O objetivo do estudo, explica o Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço e um dos autores, foi identificar os fatores de risco para hematoma pós-tireoidectomia que requerem reoperação, o momento que a lesão se manifesta, a fonte do sangramento, a dificuldade respiratória que pode exigir traqueotomia (abertura cirúrgica da traqueia) e os resultados tardios da cirurgia. A conclusão é que, embora o hematoma após cirurgia de tireoide seja uma complicação incomum, ele é relacionado à morbidade pós-operatória significativa. “Uma melhor compreensão dos fatores de risco e do tempo que leva para a formação do hematoma pode nos ajudar a direcionar os pacientes de alto risco para medidas preventivas e, principalmente, que possamos observá-los mais atentamente após a cirurgia”, ressalta Dr. Kowalski.
O estudo incluiu 5.900 pacientes submetidos à cirurgia da tireoide. A idade média foi de 45,3 anos e 4.826 pacientes (82%) eram mulheres. A maioria dos pacientes (4.554 - 77,3%) foi operada por causa de nódulos não palpáveis notados incidentalmente durante um procedimento radiológico. Clinicamente, 148 pacientes (2,5%) apresentavam bócio subesternal. Apenas 180 pacientes (3,2%) foram submetidos à cirurgia por hipertireoidismo. No total, 264 pacientes (4,9%) já haviam sido submetidos à cirurgia da tireoide. A maioria dos pacientes (91%) foi submetida à tireoidectomia total. Dissecção concomitante de linfonodos foi realizada em 717 casos (12,2%).
A importância das primeiras horas após a cirurgia
Os autores apontam que 1,1% dos pacientes apresentaram hematoma no pós-operatório e a maioria dos casos de sangramento (62,5%) ocorreu nas primeiras seis horas após a tireoidectomia e somente 12,5% dos hematomas foram observados após 24 horas. Os principais pontos de sangramentos foram os ramos da artéria tireoidiana inferior e superior. Os fatores significativamente associados à PNH foram idade avançada, dissecção de linfonodos e tireoidite linfocítica crônica.
Outros aspectos como ter irradiado previamente o pescoço ou passado por cirurgia da tireoide, assim como a extensão da cirurgia (tireoidectomia total x não total), não demonstraram ser fatores de risco para hematoma pós-cirúrgico. O uso de dispositivos de selagem de vasos, uso do agente hemostático ou a colocação de um dreno cirúrgico também não foram aspectos significativamente associados à PNH.
A hemostasia cuidadosa durante a cirurgia, concluem os autores, é obrigatória para prevenir hematoma pós-operatório. O monitoramento pós-operatório mais próximo do pescoço é recomendado para pacientes com um ou mais fatores de risco 24 horas após a tireoidectomia.
Referência do estudo
de Carvalho AY, Gomes CC, Chulam TC, Vartanian JG, Carvalho GB, Lira RB, Kohler HF, Kowalski LP. Risk Factors and Outcomes of Postoperative Neck Hematomas: An Analysis of 5,900 Thyroidectomies Performed at a Cancer Center. Int Arch Otorhinolaryngol. 2021 Jul;25(3):e421-e427. doi: 10.1055/s-0040-1714129. Epub 2020 Sep 30.
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