A prevenção secundária (diagnóstico precoce) do câncer oral pode, de fato, começar na cadeira do dentista. A observação é trazida no estudo Early detection of oral cancer: a key role for dentists?, que foi publicado na revista científica Journal of Cancer Research and Clinical Oncology por pesquisadores dos Departamentos de Cirurgia Maxilofacial e Oral, Epidemiologia e Medicina Social e de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação da Hospital da Universidade de Schleswig-Holstein e da Universidade de Lübeck, na Alemanha.
Os autores partiram da premissa que a maioria das suspeitas de alterações malignas na mucosa oral são detectadas por dentistas em consultório. Com isso, o objetivo clínico-epidemiológico e metodológico foi realizar um estudo regional prospectivo para avaliar a frequência e o tipo de alterações da mucosa oral e, principalmente, o sucesso da prática privada de odontologia em contribuir para o diagnóstico de lesões iniciais.
Dentre os 25 dentistas participantes (com idade média de 50 anos – 76% homens e 24% mulheres), onze deles alcançaram a meta de recrutar 200 pacientes no período de seis meses. Ao todo, foram recrutados 4.200 pacientes (com média de 52 anos e a maioria mulheres - 57,5%). A prevalência de lesões suspeitas foi de 8,5%.
Os critérios de inclusão para a participação de pacientes dos respectivos consultórios foi a realização de check-up odontológico durante o período de documentação; ter ao menos 18 anos de idade e ter seguro privado de saúde. Na Alemanha, o check-up semestral faz parte do cronograma padrão de serviços odontológicos de seguro de saúde e, portanto, é gratuito para os pacientes. Pacientes que marcaram uma consulta em resposta à sua própria suspeita de alterações da mucosa oral também foram incluídos. Os pacientes foram incluídos apenas uma vez, mesmo que tivessem mais de uma consulta no período do estudo.
De acordo com o cirurgião de cabeça e pescoço e Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski, o mérito do estudo está em mostrar que um estudo em cooperação com dentistas da prática privada pode gerar dados clínico-epidemiológicos sobre a detecção precoce de câncer e de condições potencialmente cancerizáveis da mucosa oral. “No Brasil, onde o diagnóstico tardio de câncer da cavidade oral é predominante, a atuação do dentista também é essencial. É fundamental haver mais estudos para que possamos gerar conclusões sobre a eficácia da medida de detecção precoce nas condições da prática diária”, ressalta.
Referência do estudo
Hertrampf K, Jürgensen M, Wahl S, Baumann E, Wenz HJ, Wiltfang J, Waldmann A. Early detection of oral cancer: a key role for dentists? J Cancer Res Clin Oncol. 2022 Jun;148(6):1375-1387.
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