Revisão sistemática que traz uma meta-análise de estudos que investigaram a possível influência do Papilomavírus Humano (HPV) positivo na sobrevida global (SG) e sobrevida livre de doença (SLD) em carcinoma adenoescamoso de cabeça e pescoço não sugere mudança na abordagem clínica dos pacientes por conta do status de HPV. A observação é trazida no estudo Human papillomavirus-related head and neck adenosquamous carcinoma: A systematic review and individual patient data meta-analysis, de autoria de pesquisadores dos departamentos de Cirurgia e Patologia Molecular da Universidade de Pisa, na Itália. O trabalho foi publicado na revista científica Oral Oncology.
Neste trabalho foram analisados três artigos que cumpriram os critérios de inclusão, tendo 26 pacientes elegíveis. Foram avaliados os dados demográficos, local e sublocal do tumor, estádio TNM (estadiamento de tamanho-T, linfonodos comprometidos-N e metástase-M), comparando com o status HPV positivo ou HPV negativo, técnica utilizada para sua identificação, assim como os tratamentos realizados, o tempo de acompanhamento do paciente e o estado geral de saúde do paciente durante o acompanhamento.
A maior incidência de câncer associado com HPV positivo (considerando os tumores de cabeça e pescoço) é observada na orofaringe. No entanto, o carcinoma adenoescamoso é raro em orofaringe. É um tipo de câncer geralmente associado a alto risco de metástases regionais e a distância e mau prognostico. Na revisão sistemática, os 26 casos representam uma casuística pequena, além do fato que apenas dez deles eram HPV positivos. “Por esses fatores, essa pequena casuística não traz uma resposta capaz de modificar a forma de tratar os pacientes. O status de HPV não altera o planejamento terapêutico”, avalia o cirurgião de cabeça e pescoço e Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski.
O estudo mostra que os carcinomas adenoescamosos HPV-positivos tiveram uma incidência maior de tumor primário de pequenas dimensões e metástases em linfonodos cervicais volumosos. Por sua vez, no momento de comparar a sobrevida global e sobrevida livre de doença os tumores HPV-positivos e HPV-negativos apresentaram taxas semelhantes para estas duas variáveis. “Tumores raros, como o carcinoma adenoescamoso, têm seu tratamento ditado pela experiência das equipes no manejo de situações similares. Não existe evidência nível I disponível. Desse modo, todos devem ser analisados em Tumor Board por equipes multidisciplinares para que decisões individualizadas de tratamento sejam estabelecidas”, ressalta Dr. Kowalski.
Carcinoma epidermóide: HPV impacta no prognóstico, mas também não altera conduta
Ao contrário do contexto trazido na revisão com carcinoma adenoescamoso, o status de HPV, assim como o consumo cumulativo de tabaco, é um fator prognóstico significativo em carcinoma epidermóide de orofaringe. Dr. Kowalski comenta que o peso da carga tabágica é bem conhecido desde estudos como o já clássico de Ang e colaboradores (NEJM, 2010), assim como em um recente estudo publicado por Rafael De Cicco, seu aluno de doutorado, com casuística do A.C.Camargo Cancer Center, na revista Head and Neck, em 2020 e há também evidências da importância prognóstica do HPV. No entanto, não são evidências suficientes para indicar mudanças no tratamento.
Referência do estudo
Fiacchini G, Benettini G, Tricò D, Torregrossa L, Vianini M, Picariello M, Dallan I, Berrettini S, Bruschini L. Human papillomavirus-related head and neck adenosquamous carcinoma: A systematic review and individual patient data meta-analysis. Oral Oncol. 2021 Mar 5:105252.
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