Análises de qualidade de vida que consideram sintomas como disfagia (dificuldade de engolir), mucosite oral (inflamação na boca e garganta) e xerostomia (boca seca por perda de saliva) são os principais focos das pesquisas científicas sobre câncer de cabeça e pescoço na última década.
É o que aponta o estudo de revisão Quality of Life for Head and Neck Cancer Patients: A 10-Year Bibliographic Analysis publicado na revista científica Cancers por pesquisadores de instituições da Malásia. A detecção precoce e o manejo desses sintomas são cruciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes durante e após o tratamento.
A observação dos autores veio após a revisão de estudos de qualidade de vida (QV) entre pacientes com câncer de cabeça e pescoço, publicados de 2013 a 2022. Foi revisada uma amostra de 444 estudos, publicados em 177 veículos neste período, escritos por 2.426 autores, com uma média de 12,21 citações por documento. A maioria dos autores participou de estudos com múltiplos autores (99,9%). O número total de publicações foi maior entre 2019 para 2022, conforme pode ser observado nas tabelas da revisão.
Segundo os autores, a sobrevivência ganhou importância significativa na produção científica, destacando a necessidade de mais estudos que abordem as perspectivas de pacientes, médicos e legisladores. Segundo eles, os profissionais de saúde devem dar prioridade aos cuidados de sobrevivência e desenvolver planos abrangentes para responder às necessidades a longo prazo dos sobreviventes. O desenvolvimento de políticas deve atribuir recursos e estabelecer serviços de cuidados de apoio e programas de sobrevivência adaptados às necessidades específicas. Além disso, acrescentam, a colaboração entre países com muitos recursos e nações em desenvolvimento com uma elevada prevalência de tumores de cabeça e pescoço é essencial para evitar lacunas na investigação e aumentar o impacto dos estudos.
Em todo o mundo, o câncer de cabeça e pescoço é o sexto mais prevalente, com uma estimativa de 660 mil novos casos e 325 mil mortes por ano. A incidência total está em uma crescente, com um aumento anual projetado de 30% até 2030. No Brasil, são registrados anualmente mais de 40 mil novos casos anuais de câncer de cabeça e pescoço. “Infelizmente, a predominância no Brasil é de diagnóstico em fase mais avançada da doença, quando são mais intensos esses sintomas. O positivo é que o Brasil é um dos maiores do mundo de conhecimento científico nesta área, como mostrou esta revisão. Estamos atentos, portanto, em oferecer qualidade de vida para os pacientes”, comenta o cirurgião de cabeça e pescoço e Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski, ao analisar o estudo.
Os autores da revisão concluem que uma investigação futura deve centrar-se em intervenções e estratégias para melhorar os resultados de sobrevivência, assim como na gestão eficaz de sintomas e toxicidades específicos e no impacto de novas modalidades de tratamento na qualidade de vida. Acreditam que colaborações interdisciplinares podem avançar ainda mais o conhecimento neste campo e contribuir para o bem-estar geral dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço.
Referência do estudo
Ghazali SNA, Chan CMH, Nik Eezamuddeen M, Manan HA, Yahya N. Quality of Life for Head and Neck Cancer Patients: A 10-Year Bibliographic Analysis. Cancers (Basel). 2023 Sep 14;15(18):4551.